A minha foto
Torres Vedras, Portugal
ALÉM DE AMAR JANIS JOPLIN, TAMBÉM ESCREVO E PINTO

18.5.17



Há dentro de mim hoje uma fúria benéfica. Algo estético e violento, como a curva pronunciada dos pescoços dos cisnes. Há em mim hoje uma cidade devastada pelas tempestades Nuvens baixas. Chuvas fortes. E no meio a paisagem que se abre. Solitário, molhado, um tenor louco canta uma ária vestido de luto dourado… Há em mim hoje um tumulto enquanto escrevo.
Um lápis branco Uma borracha preta Um ângulo pintado com azul entre os meus dedos.

14.5.10

O Mundo


Eu tive que escrever... escrever...escrever..crer...ver...
Criei o meu delírio
Tive que fazê-lo
Dei-lhe forma
como um pequeno deus em desespero
Hoje, sei, que em qualquer lugar que vá,
há sempre uma folha branca à minha espera
e uma paleta de cores
vermelhos, azuis e amarelos
Pois eu abri um mundo imenso,
dentro do meu peito
Neste poço fundo em que me encontro
a folha branca alumia
os meus olhos de sonhos!

29.9.09

Se o tempo
não tivesse passado
tão célere,
tão descompassado,
eu ainda teria
cachos nos cabelos,
e flores,
emolduradas.
Ouviria Lennon,
com outros adeptos
e sorriria, cheio
de esperança
em dias amenos...
Se o tempo não fosse
esse senhor implacável
eu ainda teria
tantos sorrisos,
afagos...
O que me aniquila
é não aceitar
o tempo
tal como ele é.

28.8.09


Porque eu ainda não estou morto,
não cantem hinos
Não é a minha missa de sétimo dia,
Silenciem os sinos
E não celebrem ainda a minha missa de corpo presente
Pois da festa da minha morte eu ainda estou ausente.

A Minha fé, ai a minha fé:
Acreditei em amigos,
em amores eternos
Mas agora a minha religião
é apenas uma solidão
dos infernos
Resta apenas repetir rimas toscas,
soletrar poemas insanos
Pois estarei com a minha solidão
pelos próximos cem mil anos.

Idiotas da Terra,
o egoísmo é a destruição da humanidade.
Caminho ao redor de uma sepultura
aberta, esperando por mim.
Todos somos apenas mortos ambulantes
à espera do fim…
Não adianta fugir nem orar ou pedir perdão
Porque a solidão mortal do homem
é a única e real religião.

13.5.09

O que Sei



Vocês , os que fazem perguntas
e perguntas cíclicas,
confusas e teimosas,
pois digo-vos, e se repetir
for preciso, reafirmo:
" Não tenho respostas
que vos sirva"

O que sei da vida é pouco
Muito pouco
Tão pouco que caberia
com folga
sobre a pétala
de uma rosa
O que sei, se sei,
é um olho branco,
apenas um -
bonito, suspenso, indivisível

Vocês que perguntam!
O que querem que
vos responda?
Não tenho resposta
Tudo que sei é mínimo
Tão mínimo que não daria
sequer para encher
uma barquinha de papel
O que sei
é de voo apenas
De voos, eu sei
mas o voo não é resposta

Sei do líquen
sobre a pedra
Da coisa húmida, lisa, viva
que faz o pé desprevenido
resvalar na sensação
de um abismo tangível

Ai vocês! Vocês, os perguntadores!
Pois eu não sei das respostas
que combinam com as vossas perguntas
Só sei das respostas
que rimam ...que cantam....
Não vêem que quero ser poeta?
O que sei é
que a probabilidade de uma ave,
neste instante,
cair sobre a vossa cabeça,
devido à direcção dos ventos
e à época do ano,
é de 0,052 por cento
O que sei é
o que as estatísticas provam :
De cem-mil-milhões de perguntas,
a resposta certa só
se concede a uma -
apenas a uma, de cada vez!

O que sei,
o que sei
é nada
No entanto,
o que sei
está sempre inquieto, mexe, renhido,
ao longo dos meus dias,
livrando-se de sílabas,
tornando-se cada vez mais límpido!